Hoje, 07 de junho de 2013 celebramos com grande alegria, a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Com esta solenidade a
Mãe Igreja, em todo o mundo, é convidada a fazer a sua jornada mundial
de orações pelos sacerdotes.
O culto litúrgico ao Sagrado Coração de Jesus na sexta-feira seguinte ao
Corpus Christi teve início no século XVII com São João Eudes († 1680) e
Santa Margarida Alacoque († 1690), embora a devoção remonte aos séculos
XIII e XIV, recebendo a primeira aprovação pontifícia um século mais
tarde. Em 1856, o papa Pio IX estendeu a festa a toda a Igreja, e em
1928 Pio XI lhe deu a máxima categoria litúrgica. A reforma
pós-conciliar renovou profundamente seus textos com base no formulário
da missa composto por ordem de Pio XI. Sabemos, porém, que o que essa
devoção nos anuncia vem da revelação: o amor de Deus anunciado a nós por
Jesus Cristo Nosso Senhor, que deu sua vida por todos nós.
Para o Papa Bento XVI o culto ao Sagrado Coração de Jesus confunde-se
com a história do Cristianismo. Ao compreendermos que o mistério do amor
de Deus sobre nós é conhecido por meio da manifestação deste amor de
forma mais profunda na Encarnação e também na Paixão e morte de Jesus na
Cruz. Ensina o Papa Emérito: “Por outro lado, esse mistério do amor de
Deus por nós não constitui só o conteúdo do culto e da devoção ao
Coração de Jesus: é, ao mesmo tempo, o conteúdo de toda verdadeira
espiritualidade e devoção cristã. Portanto, é importante sublinhar que o
fundamento dessa devoção é tão antigo como o próprio cristianismo. De
fato, só se pode ser cristão dirigindo o olhar à Cruz de nosso Redentor,
“a quem transpassaram” (João 19, 37; cf. Zacarias 12, 10)”.
Assim, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus dá-se não só pelo mero
cumprimento devocional, mas como um profundo mergulhar na vivência
radical do Evangelho. Inserindo-se no coração aberto de Jesus, inseri-se
na vida de Cristo e na união de vontades, e tem como fruto uma relação
viva entre Deus e o homem. Ensina o Papa emérito que: “A resposta ao
mandamento do amor se faz possível só com a experiência de que este amor
já nos foi dado antes por Deus (cf. encíclica «Deus caritas est», 14). O
culto do amor que se faz visível no mistério da Cruz, representado em
toda celebração eucarística, constitui, portanto, o fundamento para que
possamos converter-nos em instrumentos nas mãos de Cristo: só assim
podemos ser arautos críveis de seu amor. Esta abertura à vontade de
Deus, contudo, deve renovar-se em todo momento: «O amor nunca se dá por
“concluído” e completado» (cf. encíclica «Deus caritas est», 17).
Acho oportuno que neste mês de junho, em preparação para a festa do
Sagrado Coração de Jesus, façamos um esforço de conhecer, ler, estudar e
meditar a Carta Encíclica Haurietis Aquas, do Sumo Pontífice Papa Pio
XII, sobre o culto do Sagrado Coração de Jesus.
O Papa Pio XII ensinou, com propriedade, que, também a Igreja e os
sacramentos são dons do sagrado coração de Jesus. Diz o Papa: "Não se
pode, pois, duvidar de que, participando intimamente da vida do Verbo
encarnado, e pelo mesmo motivo sendo, não menos do que os demais membros
da sua natureza humana, como que instrumento conjunto da Divindade na
realização das obras da graça e da onipotência divina,(28), o Sagrado
Coração de Jesus é também símbolo legítimo daquela imensa caridade que
moveu o nosso Salvador a celebrar, com o derramamento do seu sangue, o
seu místico matrimônio com a Igreja: "Sofreu a paixão por amor à Igreja
que Ele devia unir a si como esposa".(29) Portanto, do coração ferido do
Redentor nasceu a Igreja, verdadeira administradora do sangue da
redenção, e do mesmo coração flui abundantemente a graça dos
sacramentos, na qual os filhos da Igreja bebem a vida sobrenatural, como
lemos na sagrada liturgia: "Do coração aberto nasce a Igreja desposada
com Cristo... Tu, que do coração fazes manar a graça".(30) A respeito
desse símbolo, que nem mesmo dos antigos Padres, escritores e
eclesiásticos foi desconhecido, o Doutor comum, fazendo-se eco deles,
assim escreve: "Do lado de Cristo brotou água para lavar e sangue para
redimir. Por isso, o sangue é próprio do sacramento da Eucaristia; a
água, do sacramento do Batismo, o qual, entretanto, tem força para lavar
em virtude do sangue de Cristo".(31) O que aqui se afirma do lado de
Cristo, ferido e aberto pelo soldado, cumpre aplicá-lo ao seu coração,
ao qual, sem dúvida, chegou a lançada desfechada pelo soldado,
precisamente para que constasse de maneira certa a morte de Jesus
Cristo. Por isso, durante o curso dos séculos, a ferida do coração
sacratíssimo de Jesus, morto já para esta vida mortal, tem sido a imagem
viva daquele amor espontâneo com que Deus entregou seu Unigênito pela
redenção dos homens, e com o qual Cristo nos amou a todos tão
ardentemente que a Si mesmo se imolou como hóstia cruenta no Calvário:
"Cristo amou-nos e ofereceu-se a Deus em oblação e hóstia de odor
suavíssimo" (Ef 5, 2) “(Cf. Haurietis Aquas, 39).
A Igreja estima muito a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e,
particularmente o Apostolado da Oração nos matricula na escola do
Coração de Cristo, porque a Igreja e todos os batizados são dons do
Sagrado Coração de Jesus. A ternura e a acolhida de Cristo para com
todos deve ser o apanágio de nossa devoção ao Coração de Cristo, que
sempre acolheu e nos ensina a acolher e a evangelizar.
Portanto, prestar culto ao Sagrado Coração de Cristo significa adorar
aquele Coração que, depois de nos ter amado até o fim, foi trespassado
por uma lança e do alto da Cruz derramou sangue e água, fonte
inexaurível de vida nova.
A festa do Sagrado Coração foi também o Dia Mundial pela Santificação
dos Sacerdotes, ocasião propícia para rezar a fim de que os presbíteros
nada anteponham ao amor de Cristo. Que nossos sacerdotes possam, a
exemplo do que representa a imagem do Sagrado Coração de Jesus, lançar a
sua mão direita, aberta para o infinito, convocando todos os que estão à
margem para procurarem o Coração de Cristo, que é a Igreja. E nossas
mãos esquerdas, a exemplo da imagem do Sagrado Coração, sejam sempre
dirigidas, com nossos atos, para o Coração de Cristo, que a todos nós
acolhe, ama, perdoa e nos fortaleza na missão de testemunhar o
Ressuscitado!
Levemos o amor do Coração de Cristo às periferias e que nossas lideranças e clero promovam uma nova evangelização.
Sagrado Coração de Jesus, temos confiança em vós!
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro
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