"Quis Deus na sua
amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu Pontificado me
consentisse voltar à amada América Latina, precisamente ao Brasil, nação que se
gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de
fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou
graças a Deus pela sua benignidade.
Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro,
é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que
nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar
e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que
de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para alimentar a
chama de amor fraterno que arde em cada coração; e desejo que chegue a todos e
a cada um a minha saudação: “A paz de Cristo esteja com vocês!”
Vim
para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços
abertos do Cristo Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu abraço para, junto
de seu Coração, ouvir de novo o seu potente e claro chamado: «Ide e fazei
discípulos entre todas as nações».
Estes jovens provêm dos diversos continentes,
falam línguas diferentes, são portadores de variegadas culturas e, todavia, em
Cristo encontram as respostas para suas mais altas e comuns aspirações e podem
saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os irmanem para além
de toda diversidade.
Cristo abre espaço para eles, pois sabe que
energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos
jovens quando conquistados pela experiência da sua amizade. Cristo “bota fé”
nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: “Ide, fazei
discípulos”. Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem
um mundo de irmãos. Também os jovens “botam fé” em Cristo. Eles não têm medo de
arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão desiludidos.
Os pais usam dizer por aqui: “os filhos são a
menina dos nossos olhos”. Que bela expressão da sabedoria brasileira que aplica
aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz
regalando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós, se não tomarmos conta
dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente? O meu auspício é que,
nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por esta desafiadora pergunta.
A juventude é a janela pela qual o futuro entra
no mundo e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa
geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber
abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno
desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a
vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode
ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida,
assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade
autêntica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um
mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores
potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e corresponsável do
destino de todos.
Nesta hora, os braços do Papa se alargam para
abraçar a inteira nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e
religiosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos
vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa".
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