Hoje, com grande alegria, 50 anos depois da abertura do Concílio Vaticano II, damos início ao Ano da fé
O Ano da fé que estamos
inaugurando hoje está ligado coerentemente com todo o caminho da Igreja
ao longo dos últimos 50 anos: desde o Concílio, passando pelo Magistério
do Servo de Deus Paulo VI, que proclamou um "Ano da Fé", em 1967, até
chegar ao o Grande Jubileu do ano 2000, com o qual o Bem-Aventurado João
Paulo II propôs novamente a toda a humanidade Jesus Cristo como único
Salvador, ontem, hoje e sempre. Entre estes dois Pontífices, Paulo VI e
João Paulo II, houve uma profunda e total convergência na visão de
Cristo como o centro do cosmos e da história, e no ardente desejo
apostólico de anunciá-lo ao mundo. Jesus é o centro da fé
cristã. O cristão crê em Deus através de Jesus Cristo, que nos revelou a
face de Deus. Ele é o cumprimento das Escrituras e seu intérprete
definitivo. Jesus Cristo não é apenas o objeto de fé, mas, como diz a
Carta aos Hebreus, é aquele “que em nós começa e completa a obra da fé”
(Hb 12,2).
O Concílio Vaticano II
não quis colocar a fé como tema de um documento específico. E, no
entanto, o Concílio esteve inteiramente animado pela consciência e pelo
desejo de ter que, por assim dizer, imergir mais uma vez no mistério
cristão, para poder propô-lo novamente e eficazmente para o homem
contemporâneo. Neste sentido, o Servo de Deus Paulo VI, dois
anos depois da conclusão do Concílio, se expressava usando estas
palavras: “Se o Concílio não trata expressamente da fé, fala da fé a
cada página, reconhece o seu caráter vital e sobrenatural, pressupõe-na
íntegra e forte, e estrutura as suas doutrinas tendo a fé por alicerce.
Bastaria recordar [algumas] afirmações do Concílio (...) para dar-se
conta da importância fundamental que o Concílio, em consonância com a
tradição doutrinal da Igreja, atribui à fé, a verdadeira fé, que tem a
Cristo por fonte e o Magistério da Igreja como canal” (Catequese na
Audiência Geral de 8 de março de 1967).
Se a Igreja hoje propõe
um novo Ano da Fé e a nova evangelização, não é para prestar honras a
uma efeméride, mas porque é necessário, ainda mais do que há 50 anos! E a
resposta que se deve dar a esta necessidade é a mesma desejada pelos
Papas e Padres conciliares e que está contida nos seus documentos. Até
mesmo a iniciativa de criar um Concílio Pontifício para a Promoção da
Nova Evangelização – ao qual agradeço o empenho especial para o Ano da
Fé – enquadra-se nessa perspectiva. Nos últimos decênios tem-se visto o
avanço de uma "desertificação" espiritual. Qual fosse o valor de uma
vida, de um mundo sem Deus, no tempo do Concílio já se podia perceber a
partir de algumas páginas trágicas da história, mas agora, infelizmente,
o vemos ao nosso redor todos os dias. É o vazio que se
espalhou. No entanto, é precisamente a partir da experiência deste
deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer, a sua
importância vital para nós homens e mulheres. No deserto é possível
redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no
mundo de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da
vida, ainda que muitas vezes expressos implícita ou negativamente.
E no deserto existe, sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com
suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo
assim viva a esperança. A fé vivida abre o coração à Graça de Deus que
liberta do pessimismo. Hoje, mais do que nunca, evangelizar significa
testemunhar uma vida nova, transformada por Deus, indicando assim o
caminho. A primeira Leitura falava da sabedoria do viajante (cf. Eclo
34,9-13): a viagem é uma metáfora da vida, e o viajante sábio é aquele
que aprendeu a arte de viver e pode compartilhá-la com os irmãos - como
acontece com os peregrinos no Caminho de Santiago, ou em outros caminhos
de peregrinação que, não por acaso, estão novamente em voga nestes
últimos anos. Por que tantas pessoas hoje sentem a necessidade de fazer
esses caminhos? Não seria porque neles encontraram, ou pelo menos
intuíram o significado do nosso estar no mundo? Eis aqui o modo
como podemos representar este ano da Fé: uma peregrinação nos desertos
do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial:
nem cajado, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas - como o
Senhor exorta aos Apóstolos ao enviá-los em missão (cf. Lc 9,3), mas
sim o Evangelho e a fé da Igreja, dos quais os documentos do Concílio
Vaticano II são uma expressão luminosa, assim como é o Catecismo da
Igreja Católica, publicado há 20 anos.
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