O Papa Dâmaso confiou a São Jerônimo a incumbência de revisar uma antiga tradução dos quatro Evangelhos em latim.
Jerônimo foi uma personalidade célebre de seu tempo. Sua capacidade
intelectual é demonstrada pela vasta quantidade de textos escritos e
traduzidos por ele. Com absoluta certeza seu trabalho mais conhecido é a
Vulgata, ou seja, uma versão da Bíblia em latim. Histórias
antigas, quando recontadas com frequência, terminam por receber novos
elementos que, por vezes, acrescentam, abreviam ou modificam a história
original. Por ser este o mês da Bíblia resolvemos abordar a questão da Vulgata, juntamente com todo o trabalho realizado por São Jerônimo ao traduzi-la.
Ordenado sacerdote em 379 d.C., São Jerônimo acompanhou o Bispo Paulino a um concílio regional em Roma. Nesse tempo foi apresentado ao Papa Dâmaso como um exegeta e profundo conhecedor das línguas bíblicas. Por causa da clareza de suas ideias e grande conhecimento, o Pontífice o escolheu para ser seu secretário e, em 382 d.C., confiou-lhe a incumbência de revisar uma antiga tradução dos quatro Evangelhos em latim. Ele concluiu este trabalho antes da morte do Papa Dâmaso (11/12/384) e acrescentou também uma versão dos salmos, traduzida do texto grego, que ficou conhecida como Septuaginta.
Expulso de Roma em 385, São Jerônimo se deslocou para Belém na Terra
Santa, onde teve contato com a versão hebraica do Antigo Testamento,
especialmente com um livro que apresentava lado a lado, de forma
comparativa, os diferentes textos do Antigo Testamento nas línguas
disponíveis naquele tempo.
Este santo e doutor da Igreja se interessou pelo texto em hebraico e
iniciou uma nova revisão, de cunho pessoal, em sua tradução dos salmos,
por meio da qual comparava o texto hebraico e grego para depois
escrevê-lo em latim. Esta versão dos salmos ficou conhecida como Galicana porque foi usada amplamente na Igreja da França (Galia
em latim). Com o sucesso dessa tradução ele começou a traduzir todo o
Antigo Testamento, mas, a partir desse momento, não utilizava mais a
versão grega e, sim, a hebraica. Este enorme trabalho prolongou-se por
15 anos, do ano 390 a 405, incluindo uma nova tradução dos salmos feita
somente do texto hebraico. Esta tradução do Antigo Testamento foi
chamada por São Jerônimo de iuxta hebraeos (que significa
“próximo aos hebreus” em português), a qual, somada aos textos do Novo
Testamento, traduzidos para o latim, chamou-se Vulgata, isto é, em língua vulgar ou comum.
Ela [Vulgata] era a única versão oficial da Bíblia usada na
Igreja até o ano 1.530, quando, devido ao povo não mais falar latim,
iniciou-se o processo de tradução para as línguas modernas.
Durante a tradução Jerônimo deparou com passagens difíceis de serem
compreendidas, por isso, logo após a conclusão desse trabalho,
dedicou-se a escrever prefácios e comentários para os livros da Sagrada
Escritura, além de responder às polêmicas teológicas existentes em seu
tempo devido ao uso de textos mal traduzidos ou interpretações
equivocadas.
Esse grande santo da Igreja morreu no ano 419 e não chegou a ver a Vulgata
ser publicada; este fato só aconteceu quando foram reunidos todos os
textos e escritos que ele havia traduzido. Importante lembrar que a Vulgata
não foi imposta à Igreja, esse processo foi acontecendo à medida que se
reconhecia que o texto traduzido por Jerônimo era mais exato e claro do
que outras traduções livres disponíveis na época.
Progressivamente a Vulgata foi recebendo pequenas correções,
por isso hoje este nome pode designar diversas versões oficiais em
latim. Aquela que chamamos hoje de Vulgata foi publicada em 1.592 pelo Papa Clemente VIII, por isso também é conhecida como Vulgata Clementina.
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